A evolução do termo “negacionista”

De 1950 a 2019: “pessoa que nega o holocausto praticado pela Alemanha nazista”.

MARÇO 2020: “quem nega a existência do vírus covid-19”.

ABRIL 2020: “quem reconhece a existência do vírus, mas discorda das políticas adotadas para combatê-lo sem haver mais informações a respeito de sua eficácia”.

MAIO 2020: “quem reconhece tanto a existência do vírus que busca tratamentos imediatos para quem foi contagiado, tentando evitar mais mortes”.

JUNHO 2020: “quem acha um absurdo proibir pobres de trabalharem para se sustentar e acha que eles podem sim trabalhar, adotando as medidas de proteção”.

SETEMBRO 2020: “quem acha hipocrisia proibir as pessoas de trabalharem para se sustentar enquanto se liberam comícios, campanha eleitoral e a aglomeração do voto obrigatório durante a pandemia”.

DEZEMBRO 2020: “quem acha hipocrisia proibir a comemoração do Natal pelas famílias, depois de terem liberado comícios e aglomerações na eleição”.

FEVEREIRO 2021: “quem acha errado que a vacina seja obrigatória antes de termos informações suficientes sobre ela”.

ABRIL 2021: “quem acha que existem vacinas mais eficazes do que outras e que tenta tomar alguma vacina mais eficaz”.

MAIO 2021: “quem fica preocupado com efeitos colaterais de vacinas, anunciados e investigados pelas próprias agências de saúde de vários países diferentes”.

JUNHO 2021: “quem acha hipocrisia fazerem campeonato brasileiro e campeonatos estaduais, mas tentarem proibir a Copa América”.

AGOSTO 2021: “quem acha que vacinados não precisam mais usar máscaras, por já estarem imunizados contra o vírus”.

SETEMBRO 2021: “quem acha estranho que quem já teve a doença e já desenvolveu anticorpos precise ser obrigado a se vacinar, violando os direitos humanos”.

OUTUBRO 2021: “quem acha errado prender ou demitir pessoas por não terem se vacinado ainda, para proteger quem já se vacinou e já está imunizado”.

 

Comentário: O mais interessante de tudo isso é que, apesar de “negacionista” ser usado em todos esses sentidos completamente diferentes, a carga emocional associada ao seu uso é a mesma presente nos dois sentidos originais.

O termo é usado como se estivesse se referindo a algum neonazista (claro, todo mundo que discorda de você é neonazista, não é?) ou a alguém que nega a existência da doença… mesmo quando usada para xingar quem está discutindo a melhor maneira de tratar a doença!

Isso não é só hipocrisia: é manipulação descarada da linguagem.

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