As sentenças interrogativas são um tipo de frase ou oração cuja principal função é realizar uma pergunta, um pedido de informação ao ouvinte. Por isso, também são chamadas de “perguntas”.
Vamos usar os termos “interrogativas” e “perguntas” como sinônimos nesse texto, assim como o fazem vários autores, mas é importante salientar que “perguntas” têm mais a ver com a função exercida por esse tipo de sentença e o terno “interrogativas” tem mais a ver com o tipo estrutural delas.
Podemos identificar cinco subtipos de sentenças interrogativas, a saber: (i) as perguntas polares; (ii) as perguntas QU, estas contendo vários subtipos diferentes; (iii) as perguntas alternativas; (iv) as perguntas-eco; (v) e as tag questions.
Veja um vídeo sobre este conteúdo:
1. INTERROGATIVAS POLARES
Também chamadas de interrogativas sim/não (ou yes/no questions), as polares são sentenças interrogativas em que se interroga sobre a totalidade da proposição expressa pela sentença. A resposta típica a uma pergunta polar é do tipo afirmativa ou negativa, como nos exemplos de (1) a (3).
(1) Maria vem pra festa?
(2) Você já pagou a conta de luz?
(3) Está chovendo?
Notem que a resposta típica será algo que confirme ou negue todo o conteúdo da sentença. Isso pode ser feito através das partículas “sim” ou “não”, mas também de outras expressões que produzam o mesmo efeito.
No português brasileiro, por exemplo, não é tão comum responder com “sim”. Ao invés disso, costumamos utilizar o verbo finito usado na própria pergunta, como em (4). Também podemos responder com advérbios como “já” em (5) ou “nunca”.
(4) A: Está chovendo?
B: Está.
(5) A: Você já pagou a conta de luz?
B: Já.
(6) A: Maria vem pra festa?
B: Nunca!
É claro que outras respostas também não possíveis para perguntas polares, como “não sei”, “esqueci”, “não lembro”, “não fale comigo” etc. Por isso, estamos falando das respostas típicas.
2. INTERROGATIVAS QU
Também são chamadas de interrogativas parciais ou interrogativas de constituinte. Neste tipo de pergunta, o objetivo não é obter uma confirmação sobre a proposição inteira, mas completar uma lacuna na proposição. Isso ocorre porque uma parte da sentença é substituída por um pronome interrogativo, representando a informação que se deseja obter.
A resposta típica a essa pergunta é um sintagma que preencha a posição ocupada pelo pronome interrogativo. A quantidade de diferentes respostas possíveis é ilimitada, mas todas do mesmo tipo.
(7) A: O que você comprou?
B: Sapatos. / Um relógio novo. / Ingressos para o cinema.
(8) A: Maria se encontrou com quem no shopping?
B: Com João. / Com uns amigos. / Com ninguém.
(9) A: Qual filme nós vamos assistir?
B: Qualquer um. / O (filme) que você quiser. / O filme novo de Nolan.
(10) Quando ele chegou?
B: Ontem. / Na semana passada. / Agora há pouco.
O nome “perguntas QU” deriva do fato de que, em português, a maioria dos pronomes interrogativos é escrito com as letras iniciais “Q” e “U”. Na literatura em inglês, esse tipo de sentença é chamado de “WH questions”, uma vez que a maioria dos pronomes dessa língua se escreve com essas duas letras.
Há vários subtipos de perguntas interrogativos, levando em consideração a quantidade e a posição dos pronomes interrogativos na sentença, mas isso é tema para um texto dedicado especificamente a esse tipo de interrogativas.
3. PERGUNTAS ALTERNATIVAS
As perguntas alternativas já apresentam em sua formulação as possibilidades (bastante limitadas) de resposta esperadas pelo falante. Em português, elas possuem uma estrutura do tipo “ou… ou…”, em que a primeira conjunção “ou” pode ser omitida.
Elas funcionam como duas (ou mais) orações coordenadas, mesmo que a última costume ocorre de modo elíptico.
(11) Você mandou a mensagem por email ou (mandou por) por telegram?
(12) Maria comprou esse apartamento ou alugou?
(13) Isso vai facilitar ou vai dificultar as coisas?
(14) Nós vamos na segunda, (vamos ) na terça ou (vamos) na quarta?
Entre os casos de perguntas alternativas, podemos dar destaque a um tipo que se assemelha bastante às perguntas polares, pois as opções apresentadas são a versão afirmativa e a versão negativa do mesmo predicado, o que faz com que a resposta típica esperada seja novamente do tipo sim ou não, como nos exemplos de (15) a (17).
(15) Você vem ou não (vem)?
(16) Maria gosta dele ou não (gosta)?
(17) Vamos sair ou não (vamos)?
Ainda assim, faz sentido considerar tais perguntas como alternativas, uma vez que envolvem uma coordenação através de uma conjunção alternativa.
4. PERGUNTAS-ECO
As perguntas-eco poderiam ser vistas como um subtipo das perguntas QU. De fato, a maioria dos materiais trata as perguntas-eco dessa forma. O problema é que isso faz com que simplesmente sejam esquecidas na maioria dos materiais sobre as sentenças interrogativas. Por isso, julgamos melhor destacar esse tipo aqui. Além do mais, há diferenças importantes entre as verdadeiras perguntas QU e as perguntas-eco.
A principal diferença não é a estrutura, mas a função pragmática. As perguntas-eco são formalmente interrogativas QU, mas não são efetivamente pedidos de informação nova, mas expressões de surpresa e/ou pedidos para a repetição de algo que acabou de ser dito. Nos exemplos de (18) a (19), o interlocutor não está buscando uma informação nova.
(18) A: Eu dei um murro no síndico do prédio.
B: Você deu um murro em QUEM?! No síndico?
(19) A: Maria beijou João.
B: Ela beijou QUEM?! Em João, o marido de Aline?!
Outra diferença importante entre as interrogativas QU normais e as perguntas eco é que as últimas não permitem que o pronome interrogativo seja movido para a esquerda da sentença.
Nas interrogativas QU verdadeiras, esse movimento é permitido ou mesmo obrigatório, a depender da língua. No inglês, o movimento do QU é obrigatório. No português brasileiro, é opcional. Mas, nas perguntas-eco, tal movimento não ocorre, seja no inglês, seja no português.
(20) Quem (que) Maria beijou? [interrogativa QU normal com movimento]
(21) Maria beijou quem? [interrogativa QU normal sem movimento]
(22) Maria beijou QUEM?! (pergunta eco)
Essa diferença pode decorrer justamente do fato de que as pergunta-eco não são perguntas de verdade, ao menos do ponto de vista semântico.
As perguntas-eco não devem ser confundidas com as perguntas retóricas, apesar de terem o efeito semelhante de aparentemente não serem perguntas de fato. A diferença é que as perguntas retóricas não são apenas do tipo QU, mas podem ser polares, QU ou alternativas. Outra diferença entre as retóricas e as perguntas-eco é que as retóricas são usadas sim como perguntas, mas como perguntas cuja resposta é assumida pelo ouvinte como óbvias ou como tão vagas que devem despertar antes a reflexão sobre o assunto ao invés de uma resposta imediata dos ouvintes.
5. TAG QUESTIONS
As tag questionas (para as quais não existe um bom termo em português) são perguntas reduzidas, que ocorrem ao final de uma frase declarativa, como forma de pedir pela confirmação do conteúdo desta.
(23) Você vem pra cá amanhã, não vem?
(24) João já chegou, né?
(25) Maria é argentina, num é?
(26) Joana não foi pra aula ontem, foi?
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES
Além desses cinco tipos, também podemos classificar as sentenças interrogativas em perguntas diretas ou indiretas. Não se trata exatamente de um sexto tipo de interrogativas, mas sim da posição em que as interrogativas citadas previamente (ou, ao menos, a maioria delas) pode ocorrer.
As perguntas diretas são sentenças matrizes (principais), ao passo que as perguntas indiretas são as mesmas perguntas, mas inseridas em uma posição de subordinação, ou seja, como uma oração encaixada/subordinas.
Em (27) e (28), temos exemplos de uma pergunta polar e um pergunta QU diretas (matrizes. Em (29) e (30), temos as mesmas perguntas, mas como orações subordinadas, como perguntas indiretas.
(27) Maria vem pra festa? (pergunta polar direta)
(28) O que você comprou? (pergunta QU direta)
(29) João perguntou [ se Maria vem pra festa ]. (pergunta polar indireta)
(30) João perguntou [ o que você comprou]. (pergunta QU indireta)
Em português, as perguntas polares, quando indiretas, são introduzidas pela conjunção completiva “se”. Já as perguntas QU indiretas diferem das diretas pelo fato de que o movimento do pronome interrogativo passa a ser obrigatório. Não é possível manter o pronome dentro do sintagma verbal.