Texto do professor Fabio Blanco:
Pais, com ares de que irão tomar uma grande decisão, saem de casa garbosos, em busca de uma escola na qual confiarão seus filhos. A oferta é grande e as promessas infinitas. Escolhem uma que na propaganda afirma que aplica os métodos mais modernos da pedagogia. Como tudo o que é moderno parece bom, marcam uma reunião com a diretora. Ao chegarem à escola ficam encantados com a ordem e segurança do local. No entanto, como são pais que se preocupam em proporcionar a melhor formação para suas crianças, ficam seduzidos pela promessa de que ali os alunos são estimulados a desenvolverem, desde cedo, um pensamento crítico.
Aqueles pais, já imaginando, cheios de orgulho, seus filhos vociferando, numa tribuna qualquer, à maneira de uma Greta Thunberg, contra os males da sociedade, assinam o contrato e voltam para casa aliviados, certos de que cumpriram sua missão.
A escola, então, cumprindo fielmente o prometido, começa a estimular as crianças a olharem para a sociedade de maneira a examiná-la, avaliá-la e julgá-la. Não demora e logo surge uma redação sobre algum tema espinhoso (pode ser sobre as queimadas na Amazônia, o racismo estrutural, a participação feminina na política ou mesmo sobre os altos índices de criminalidade).
Não importa que aqueles pequenos infantes não tenham a mínima ideia do assunto que vão tratar; que não tenham a mínima capacidade de tecer qualquer comentário sobre o tema; que não saibam nada da vida, nem tenham estudado nada sobre a matéria. O que importa, para os novos pedagogos, é que, sendo estimuladas a dar suas opiniões, fortalecerão sua capacidade de criticar, que é o objetivo pedagógico declarado.
Desenvolver o pensamento crítico até seria louvável. O problema é querer fazer isso desde muito cedo, estimulando as crianças a darem opinião sobre o que não têm a mínima noção, viciando-as em serem palpiteiras e a falar sem ter dedicado um mínimo de atenção e espaço ao assunto abordado.
Obviamente que, ao serem estimuladas a isso, aprendem a concentrar-se em seus próprios raciocínios, valorizando seus próprios processos cognitivos, enquanto desprezam a riqueza do conhecimento acumulado pela sociedade e os próprios fatos.
O resultado desse tipo de aprendizagem é a exaltação da opinião, não do conhecimento. Com o tempo, o apego às concepções pessoais torna-se tão forte que o aluno já não consegue conceber outras “verdades” senão aquelas que ele mesmo consegue formular. Suas opiniões acabam confundidas com a própria realidade.
Alguns métodos educativos modernos, portanto, tornam os jovens intelectualmente autofágicos e cognitivamente egocêntricos. São capazes de gerar falastrões, mas dificilmente formarão filósofos.
Isso é uma traição à própria missão da pedagogia, que não é fazer o aluno mergulhar para dentro de si mesmo, em um processo de retroalimentação de suas próprias concepções, mas conduzi-lo para além de suas experiências e perspectivas, colocando-o em contato com a riqueza de sabedoria que existe no mundo.
Na verdade, o objetivo da educação é tornar o aluno menos confiante em relação ao que pensa saber e fazê-lo desconfiar do que sabe, despertando nele o desejo de buscar o conhecimento fora, onde quer que o conhecimento esteja.
O fato é que educar (do latim ex ducere, ou seja, levar para fora) é tirar o indivíduo de dentro de si, de seu mundinho reflexo unicamente de suas sensações imediatas; é fazê-lo ver as coisas de maneira indireta; é ensiná-lo a olhar por outros prismas; é fazê-lo entender que o abismo entre o que se pode retirar da sua experiência direta e o que se pode absorver do conhecimento universal é imenso.
A função da educação é colocar o aluno em contato com o conhecimento universal. Se isso irá gerar nele um pensamento crítico, será meramente por um efeito indireto, porém nunca como meta; no máximo, como efeito indireto do desenvolvimento de uma mente capaz de ler a realidade.