Sentenças clivadas são sentenças partidas em duas pela introdução de uma cópula “é” e um “que”. Em (2), temos um exemplo da versão clivada da sentença não-clivada em (1).
(1) João viajou pra Aracaju.
(2) FOI João QUE viajou pra Aracaju.
A cópula pode se flexionar em tempo (“foi”, “era”), mas também é número e em pessoa, como em (3-5):
(3) Fui eu que comprei esse livro.
(4) Sou eu que vou comprar esse livro.
(5) Será que você pode comprar esse livro?
O sintagma entre a cópula e o “que” é chamado de elemento clivado. Este pode corresponder ao sujeito da sentença, como nos exemplos anteriores, mas também a outras funções sintáticas, como o complemento ou adjunto do verbo lexical. Portanto, quanto ao tipo de sintagma, ele pode ser um SN (sintagma nominal), SPrep (sintagma preposicional) ou SAdv (sintagma adverbial), como em (6-9):
(6) Foi esse livro que eu comprei… [objeto direto, SN]
(7) É com Maria que ele conversa bastante. [objeto indireto/oblíquo, SPrep]
(8) Foi pra Aracaju que João viajou… [adjunto adverbial, SPrep]
(9) Foi ontem que João viajou… [adjunto adverbial, SAdv
A subparte da sentença que é precedida pelo “que” é muitas vezes considerada uma oração relativa, mas existe muito debate sobre qual é realmente a estrutura sintática subjacente às clivadas.
O sintagma clivado também pode ser movido para antes da cópula, como em (10-15) resultando no que chamamos de “clivada invertida“, por oposição à “clivada canônica” dos exemplos anteriores.
(10) Esse livro foi que eu comprei ontem.
(11) Com Maria é que ele conversa bastante.
(12) Pra Aracaju é que João viajou.
(13) Ontem foi que João viajou.
(14) João foi que viajou pra Aracaju.
(15) Eu fui que comprei esse livro.
No português brasileiro (mas não no português europeu), também é possível omitir a cópula, resultando em sentenças como (16-20), chamadas de “clivadas sem cópula”:
(16) Esse livro que eu comprei ontem.
(17) Com Maria que ele conversa bastante.
(18) Pra Aracaju que João viajou.
(19) Ontem que João viajou.
(20) João que viajou pra Aracaju.
(21) Eu que comprei esse livro.
Existem também estruturas chamadas de sentenças “pseudo-clivadas”, que devem ser consideradas um tipo de sentença diferente e de que trataremos em outro texto.