Ortografia não é a língua: “assalto a banco frustrado por caligrafia ruim”

Uma coisa muito importante para o estudante de Letras se dar conta é que a língua real, a língua de fato, é a sua modalidade falada. A escrita é uma tecnologia, criada milhares de anos depois de as línguas existirem, para registrar a língua para a além do momento único do seu uso.

A escrita possui necessidades e regras próprias, decorrentes do fato de que ela se baseia num meio visual, precisa de um suporte material físico (como uma folha de papel ou uma tábua) e não possui os elementos contextuais da comunicação oral (ou por sinais) direta. Além disso, a ortografia e o formato correto das letras é algo completamente independente do domínio real do idioma por parte de alguém.

Alguém pode ser um falante fluente de uma língua e cometer erros ortográficos por falta de treino. Também pode ter uma caligrafia péssima e isso não reflete em nada a sua capacidade de falar a língua. Um caso inusitado que confirma isso é a notícia abaixo, de  um homem na Inglaterra que tentou assaltar um banco, mas não conseguiu porque o atendente não conseguiu entender o bilhete com as exigências do assaltante. A caligrafia ruim impediu uma comunicação (e, felizmente, um assalto), algo que dificilmente teria acontecido numa comunicação oral. Mesmo se o ouvinte não entendesse o que lhe foi dito oralmente, o falante poderia facilmente repetir a frase, reformulá-la, falar mais alto e de modo mais claro.

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